A Senadora Regina Sousa, filha de agricultores que residiam na cidade de União, interior do Piauí, chegou a quebrar côcos com a família e desde muito cedo começou a se preocupar com causas sociais. Primeiro percebeu as injustiças cometidas contra os trabalhadores rurais, vendo dentro de casa o exemplo da fragilidade das famílias de sem terras, que dependiam dos donos das propriedades, em situação de completa fragilidade social, sem a segurança de ter uma terra onde plantar e colher o próprio sustento ou mesmo ter a certeza de ter uma residência, já que, morando em terras alheias, poderiam ser, a qualquer momento, despejados sem aviso prévio, bastando pra isso, não estarem produzindo a contento. Numa conversa franca ela falou sobre desafios pessoais, sobre discriminação, projetos a serem abraçados no Senado e, é claro, política.
Sobre a Reforma Política
De acordo com Regina, o Partido dos Trabalhadores do Piauí, está realizando uma série de visitas ao interior do Estado para ouvir lideranças e a sociedade em geral sobre a proposta de Reforma Política que tramita no Senado e deverá ser apresentada à população para consulta, em forma de referendo.
“O partido deliberou sobre a importância de se ouvir a população sobre a reforma política que está tramitando, e, por isso, determinou que todos os seus parlamentares percorram os seus Estados nos finais de semana com essa missão” disse a Senadora.
Com esse objetivo, nesse sábado, 28/02, a Senadora participou de um amplo debate sobre o tema em Picos, no Auditório Gaudêncio, bairro Catavento, onde estiveram presentes militantes do PT, lideranças da sociedade civil organizada e integrantes de outras siglas partidárias.
Alguns pontos são consenso, como o fim da reeleição para o executivo e limitação de quantidade de mandatos possíveis de parlamentares, (um número de três mandatos já seria o suficiente para se realizar um bom trabalho em prol da sociedade e não caracterizar uma perpetuidade como se fosse um direito hereditário – diz ela); não ao voto distrital (poderia ser um fator de retrocesso e nos remeteria de volta ao tempo do coronelismo e dos currais eleitorais); eleições coincidentes para todos os cargos; entre outras questões, algumas bastante controversas e que ainda demandarão muitos embates políticos para serem acertadas.
Sobre as coligações proporcionais, a Senadora é direta: “Coligação proporcional é uma aberração jurídica, na tua coligação tem gente que vota em outra coligação, isso não é aceitável, apoiamos a continuidade para a majoritária, quando você concorda com um projeto político para o país e você vai votar nele”.
Discriminação contra a Mulher
A parlamentar ressaltou que nesse mês de março, que marca o dia Internacional da Mulher, (08), deverão ser discutidas propostas para elaboração de um projeto de lei que torne obrigatória a reserva de uma cota percentual das cadeiras no parlamento, para as mulheres: “ Nós somos 15 senadoras num universo de 81 parlamentares no Senado. Cinco mulheres são do PT. Na Câmara essa desproporção é ainda maior: Dos 513 parlamentares, apenas 46 são mulheres. Já existe a lei que determina que 30% das vagas dos partidos sejam ocupadas por candidatas mulheres, mas a elas não são dadas as mesmas oportunidades que são oferecidas aos homens para efetivamente concorreram e serem eleitos. Muitos partidos apenas preenchem as vagas para cumprir a lei. Nós queremos que, de fato, seja reservada uma cota de cadeiras que deverão ser obrigatoriamente preenchidas por mulheres. A proposta foi abraçada por todas as senadoras “.
Preconceito
A Senadora disse que ficou surpresa com os comentários discriminatórios ao assumir a vaga deixada pelo senador Wellington Dias, de quem era suplente, quando ele foi eleito Governador do Estado do Piauí: “Coordenei todas as campanhas dele (Wellington Dias), inclusive essa última ao Governo do Estado, eu contribuí para essa eleição também. Não sou a primeira suplente a assumir uma cadeira no Congresso. Se a regra está errada, vamos mudar a regra, no momento é um direito do suplente assumir. Eu não podia ser hostilizada como fui, mas faz parte, também, do preconceito contra a mulher”.
Trabalho no Congresso Nacional
Ex-integrante de movimentos estudantis, sindicalistas, e amplamente envolvida com as lutas sociais, a Senadora diz que se empenhará não apenas em propor projetos de leis, mas em fazer com que as leis existentes que assegurem direitos sejam cumpridas na prática.
Escolhida presidente da Comissão de Direitos Humanos, a Senadora também é membro da Comissão de Educação e deverá assumir a Comissão de Assuntos Sociais.
“Me preocupam as causas sociais, a violência contra a mulher, a situação dentro dos presídios. Não só das mulheres como também a dos homens, que, ao saírem de lá, após o cumprimento de sua pena, não tem como se sustentarem aqui fora, já que, mesmo que tenham aprendido uma profissão, não saem com emprego garantido. Por isso devemos apresentar um projeto que torne obrigatório, por exemplo, cotas de vagas nos empregos gerados através de contratos para obras do Estado e através do SINE (Sistema nacional de Empregos).”
Desafio
Sobre essa nova missão, de representar o povo do Piauí no Congresso Nacional, a parlamentar não tem dúvidas de que não será fácil, mas afirma que saberá honrar a tarefa: “Minha vida foi feita sempre de desafios, esse será um pouco mais difícil porque não tenho historia de parlamento, minha luta foi sempre nas ruas, nos movimentos sociais. Mas quero estar à altura do meu Estado e representa-lo bem. Meu foco de debate serão os direitos humanos”.
Ainda presidente do PT/PI, Regina disse que pretende se licenciar do cargo em abril, para ter mais tempo para pegar “traquejo” do congresso, segundo ela, muito dinâmico no dia a dia, para quem quer participar.