Li o livro de José Sólon de Souza de uma pitada só. Digo pitada porque literatura pra mim é um vício. Já havia lido partes na internet. Mas não me tirou, em nada, o gosto da leitura em papel, na “boneca”, pronta para a edição. Trata-se de “Você, meu orgulho”. Que título inteligente, hem? E aí me aprofundo na leitura, indo e voltando, a meditar, e sinto que Sólon é um filósofo que a medicina emprestou à literatura. São cada tiradas de pensamento bem simples que, no entanto, nos tiram o fôlego. Por exemplo: “A quem não quiser morrer, vou ensinar a receita: ame intensamente, verdadeiramente e incondicionalmente! Pois só assim você estará para sempre presente na aura dos anjos, no plano metafísico do ser, responsável pela memória que, carinhosamente, lhe imortalizará, no coração da pessoa ou pessoas amadas”.
Esta é apenas uma das suas tiradas filosóficas, daqueles mais degustáveis pelo público.Mas não é só filosofia que sai do seu moedor de pensamentos: “Se há uma coisa mais linda, e sempre linda na verdadeira acepção da palavra, é o sorriso estampado no rosto de um jovem. Perde apenas para o poderoso sorriso de um grupo enfileirado de mil jovens adolescentes”.
Isto é poesia. Isto é sentimento de verdade e de ciência, de um conhecedor profundo da alma humana. Como grande médico, não poderia ser de outra forma. O coração de Sólon de Souza esboroa de bondade, que é sabedoria, que é glória, que é poder, sem precisar de posto político. Que Deus o conserve por muito tempo.
Seu estilo é um misto de popular e clássico, denota que tem pressa, mas permanece com a clareza e a correção necessárias ao bom leitor. Ao mesmo tempo, tem atitudes firmes para narrar o que sabe (e muito sabe) e o que sente. Sensível à maioria dos erros, maldades, desprezo pela coisa pública, especialmente na área de saúde. Resoluto, quer fazer tudo sem perder tempo, porque tem uma alma grande e nobre, nobreza que chega primeiramente aos pequenos e pobres, quando se dispõe a compor poesia e música, numa linguagem muito descontraída, arte em que comunica com muito prazer e sabedoria.
Como disse noutra parte, repetindo o Prof. A. Tito Filho, os médicos costumam escrever bem, por isto há muitos escritores médicos – o que é bom para a cultura literária. Há muitos acadêmicos médicos, poetas médicos, até romancistas e contistas, porque a arte é uma das formas mais altas de transmissão dos sentimentos. E quem mais conhece o sofrimento, a dor, a alegria do que eles?
Este livro é um manancial de vida dentro de sua história de vida, focando, sem reservas, a criança, o adolescente, o estudante, as dificuldades por que passou (embora vindo de família bem situada) e, depois, as grandes dúvidas na escolha de sua carreira, profissão, terminando por seguir a medicina, esse sacerdócio.
Escrever memória não tão fácil quanto se pensa, mesmo porque é uma espécie literária para a qual não há nenhum modelo estético. Só deve escrever este tipo de literatura, no meu entendimento, quem tem algo importante para contar. E José de Sólon de Souza possui. O livro divide-se em duas partes: a primeira são suas empolgantes memórias; a segunda, apresentando textos normalmente musicados ou por musicar no futuro, os quais podem ainda não ser sorvidos, entendidos e gostados pelos ouvintes de hoje, mas certamente escreve para o amanhã.
Também, para o amanhã são suas memórias. Dotado de uma fabulosa memória, Sólon tem também uma vocação forte para a história, nota-se aqui, no seu “Você, meu orgulho”. Digo, sem medo de erro, que seu livro será da maior importância para o historiador de Jaicós, pois essa cidade, que tem uma tradição invejável, não pode evolar-se na poeira tempo: tem que ser escrita.
Não é de bom tempo antecipar ao leitor trechos do livro que ele vai ler, e quem não o ler não sabe o que está perdendo, mas vou citar seu pensar e sentir em relação à mulher: “Confesso, com muito orgulho, que a meu ver, toda mulher já nasce divina. (…) Quem nunca se ajoelhou diante de sua musa não sabe a que veio”. E conta um caso de repentino apaixonamento seu por uma dama, mas não vou recontá-lo, pois é melhor que o leitor o sinta no seu próprio discurso. Foi, segundo ele, quando se sentiu em verdadeiro “estado de graça”.
Poeta na vida (atual), médico sempre, amigo de verdade, peço que “não esgotes jamais a fonte da tua poesia” e “cria o teu ritmo a cada momento e criarás o mundo”, nas palavras do imenso poeta Ronald de Carvalho, e por este caminho viverás e amarás eternamente. E eu, seu amigo e leitor, fico satisfeito em ocupar um lugar dentro do que você chama de seu orgulho.
Teresina – PI, 14-1-2016
Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras, nascido em Jenipapeiro, antigo município de Picos, hoje, independente com o nome de Francisco Santos – PI, mora em Teresina-PI, foi comerciário, professor, bancário, radialista, hoje apenas aposentado.