05 / 08 / 2023 - 10h24
Oscar 2016: conheça os indicados que são baseados em histórias reais

Assim como em 2015, quatro dos oito indicados ao Oscar de melhor filme deste ano são baseados em histórias reais. Além disso, Michael Fassbender ("Steve Jobs"), Leonardo DiCaprio ("O regresso"), Eddie Redmayne ("A garota dinamarquesa"), Bryan Cranston ("Trumbo") e Jennifer Lawrence (“Joy”) são alguns dos atores que concorrem pela interpretação de personagens que existiram. Os vencedores serão anunciados na cerimônia que acontece neste domingo (28).

Para retratar essas histórias, roteiristas e diretores pegam o fato e mudam conforme seus interesses cinematográficos. Situações são criadas, personagens importantes historicamente são esquecidos na trama, entre outros "detalhes". Abaixo, o G1 mostra o que esses longas mantiveram dos casos em que foram inspirados:

À esquerda, o jornalista Mike Rezendes, e, à dir., Mark Ruffalo em 'Spotlight: Segredos revelados' (Foto: Reprodução/Twitter e Divulgação)

 

Ficção: Em "Spotlight: Segredos revelados", do diretor Thomas McCarthy, os atores Rachel McAdams, Mark Ruffalo, Michael Keaton e Brian d'Arcy James interpretam um grupo de jornalistas que reuniu milhares de documentos capazes de provar vários casos de abuso de crianças por cerca de 250 padres católicos em Boston. Líderes religiosos ocultaram a história durante anos, transferindo os padres de região.

Para o papel, Ruffalo não só visitou Boston com o repórter do "Boston Globe", Mike Rezendes, como também o acompanhou no trabalho. "Eu o vi atendendo os telefones, escrevendo suas histórias", disse, em entrevista. A jornalista Sacha Pfeiffer declarou que a atriz Rachel McAdams também não desgrudou dela. "Ela queria saber: 'O que você vestia em 2001?', 'O que você comeu?', 'Como você toma notas?'", disse.

Realidade: Os roteiristas do filme queriam que ao menos um dos repórteres estivesse mais em contato com sua fé para aumentar o drama da história, mas a realidade é que nenhum deles praticava a religião católica.

Como no filme, quando abordado pela repórter Sacha Pfeiffer, o padre Ronald H. Paquin logo declarou que havia molestado meninos até 1989, um ano antes da Arquidiocese de Boston afastá-lo de sua posição. Mas a cena aconteceu na sala de estar, não na entrada da casa.

Assim que a matéria saiu no início de 2002, mais vítimas denunciaram abusos de padres católicos. A equipe do Spotlight ganhou o prêmio Pulitzer em 2003.

À esquerda, a jornalista Sacha Pfeiffer, e, à dir., Rachel McAdams em 'Spotlight' (Foto: Paul Marotta/Getty Images/AFP e Divulgação)

 

À esquerda, o investidor norte-americano Michael Burry, e, à dir., Christian Bale em 'A grande aposta' (Foto: Dimitrios Kambouris/Getty Images/AFP e Divulgação)

 

Ficção:"A grande aposta", do diretor Adam McKay, é baseado no livro "A jogada do século", de Michael Lewis. Steve Carell, Ryan Gosling, Christian Bale e Brad Pitt são investidores que previram o comportamento dos norte-americanos que conduziu à catástrofe financeira em 2008. Bale, que interpreta o investidor Michael Burry, pediu para que ele lhe enviasse algumas de suas próprias roupas, e usou sandálias semelhantes as dele (ou ficou descalço mesmo).

Realidade: Michael Burry é o único personagem cujo nome não foi alterado para o filme. Segundo McKay, Burry realmente "é um cara que ouve speed metal, na maioria das vezes não usa sapatos, e usa semanas seguidas as mesmas roupas". Ele também é introvertido na vida real. Quando seu filho foi diagnosticado com síndrome de Asperger, Burry começou a acreditar que ele também sofria de uma forma leve da doença relacionada ao autismo.

O verdadeiro Michael Burry perdeu um olho devido a um câncer quando ele tinha dois anos. Aos 29, para se dedicar exclusivamente ao mercado financeiro, Burry deixou a carreira de médico. Certa vez, ele dormiu em pé enquanto observava uma cirurgia complicada, caindo na tenda de oxigênio do paciente.

À esquerda, o agente de inteligência da União Soviética Rudolf Abel, e, à dir., Mark Rylance em 'Ponte dos espiões'(Foto: ullstein bildullstein bild via Getty Images e Divulgação)

 

Ficção: "Ponte dos espiões", dirigido por Steven Spielberg, conta a história de um advogado norte-americano, James B. Donovan (Tom Hanks), que é recrutado pela CIA durante a Guerra Fria para ajudar a resgatar o piloto Francis Gary Powers e o estudante Frederic L. Pryor, detidos na União Soviética.

Realidade: Foi o assistente de Rudolf Abel, Reino Häyhänen, que alertou os EUA sobre espionagem. Após trabalhar como espião na América por dez anos, Abel estava infeliz com o seu assistente pelo seu alcoolismo, discussões com a esposa, e por sair com prostitutas. Abel reclamou com Moscou e Häyhänen teve que retornar. Häyhänen fugiu para a embaixada dos EUA em Paris, onde revelou sua identidade como um agente da KGB e alertou autoridades norte-americanas sobre o paradeiro de Rudolf Abel, que foi capturado pelo FBI em 1957.

Como no filme, o Tribunal Federal jogou a decisão para o Brooklyn Bar Association, que escolheu Donovan para defender Abel. Donovan acreditava que todo mundo merece uma defesa. Sua mulher, Mary, não gostou da decisão. Eles chegaram a receber ameaças de morte por carta e telefone, mas, ao contrário do que mostra no filme, ninguém atirou na janela da casa deles.

Donovan realmente insistiu ao juiz que não desse a pena de morte a Rudolf Abel porque ele poderia servir para futuras negociações.

À esquerda, o explorador Hugh Glass (1783-1833), e, à dir., Leonardo DiCaprio em 'O regresso' (Foto: Divulgação)

 

Ficção: Dirigido por Alejandro González Iñárritu, "O regresso" conta a história do explorador e caçador de peles Hugh Glass. Ele é atacado por um urso e fica gravemente ferido. Dois homens são encarregados de cuidar dele, mas, como acreditavam que ele morreria logo, resolvem abandoná-lo. Entretanto, Glass sobrevive e inicia uma jornada em busca de vingança.

DiCaprio, favorito ao Oscar de melhor ator, teve que caminhar em temperaturas frias usando uma autêntica pele de urso que pesava 45 quilos quando molhada.

Realidade: Ao contrário do filme, Hugh Glass não foi quem teve a ideia de ordenar que os caçadores deixassem seus barcos e fossem pelas montanhas após a batalha com os Arikara.

Pouco se sabe da vida pessoal de Glass. A união dele com uma mulher nativa americana, seu filho mestiço, e os anos que ele morou com os índios Pawnee são hipóteses. O ataque do urso teria acontecido em 1823, cinco meses após Glass se juntar à expedição de Andrew Henry e William Henry Ashley. Não era inverno, mas verão.

Hugh Glass teria alcançado John Fitzgerald e Jim Bridger, os homens que o abandonaram, mas ele os perdoou em vez de promover uma vingança violenta. Lembrando que, na vida real, estes homens nunca mataram o filho de Glass, de modo que o perdão seria mais fácil.

À esquerda, a transexual Lili Elbe em foto de 1926, e, à dir., Eddie Redmayne em 'A garota dinamarquesa' (Foto: The Wellcome Library, London e Divulgação)

 

Ficção: Nascida na Dinamarca com o nome de registro de Einar Mogens Wegener (1882-1931), a pintora Lili Elbe foi a primeira pessoa a se submeter a uma cirurgia de redesignação sexual. "A garota dinamarquesa", do diretor Tom Hooper, é baseado no livro do escritor David Ebershoff e mostra a história da transformação de Einar em Lili e seu casamento com a também pintora Gerda Wegener (Alicia Vikander).

Realidade: Como no filme, a transição de Einar para Lili começou quando Gerda finalizava um quadro da atriz e amiga do casal Anna Larssen, mas ela não apareceu para modelar. Então, Anna sugeriu que Gerda pedisse a seu marido Einar que se vestisse de mulher para posar para o retrato. Acredita-se que isso aconteceu por volta de 1908. Foi Anna Larssen (Amber Heard) também que sugeriu o nome de Lili a Einar.

Einar conheceu Gerda quando ambos frequentavam a Academia Real Dinamarquesa de Belas Artes de Copenhagen. Eles namoraram por alguns anos e casaram-se em 1904, quando ele tinha 22 anos e Gerda tinha 19. Assim como no filme, médicos disseram que Einar era esquizofrênico por se vestir de mulher e prescreveram terapia de radiação. Einar também planejou cometer suicídio se não pudesse fisicamente se tornar uma mulher. No entanto, as operações para que isso acontecesse levaram a sua morte.

À esquerda, o pintor Einar Mogens Wegener, e, à dir., Eddie Redmayne em 'A garota dinamarquesa' (Foto: The Wellcome Library, London e Divulgação) (Foto: The Wellcome Library, London e Divulgação)

 

À esquerda, a pintora Gerda Wegener, e, à dir., Alicia Vikander em 'A garota dinamarquesa' (Foto: Fine Art Images/Heritage Images/Getty Images e Divulgação)

 

À esquerda, Joy Mangano em fevereiro deste ano, e, à dir., Jennifer Lawrence em 'Joy: O nome do sucesso' (Foto: Joshua Blanchard/GETTY IMAGES NORTH AMERICA/AFP e Divulgação)

 

Ficção: "Joy: O nome do sucesso", dirigido por David O. Russell, tem Jennifer Lawrence no papel de Joy, uma jovem mãe solteira que se tornou uma das maiores empresárias dos Estados Unidos. No filme, Lawrence teve que interpretar desde uma adolescente até uma menos crível mulher de 40 e poucos anos.

Realidade: Nascida em 1956, Joy Mangano inventou o esfregão Miracle Mop em 1990, mas ela possui mais de 100 patentes e marcas de suas invenções, incluindo os cabides de veludo Huggable Hangers e o dispositivo portátil para alisar as rugas My Little Steamer. Ela é fundadora e presidente da Ingenious Designs. Seu sobrenome, no entanto, não é mencionado no filme.

Como no longa, Joy nasceu em Nova York e cresceu na cidade de Huntington, em Long Island. Mas personagens como a sua meia-irmã Peggy foram criados para a trama. O ex-marido de Joy, Tony Miranne (interpretado por Édgar Ramírez), não era um cantor venezuelano, mas um colega da Universidade de Pace.

Joy conseguiu sim vender mais de 18 mil Miracle mops durante sua primeira aparição na emissora QVC. Ela se mudou da QVC para a rival HSN quando esta comprou sua empresa Ingenious Designs LLC, em 1999.

À esquerda, o roteirista Dalton Trumbo, e, à dir., Bryan Cranston em 'Trumbo: Lista negra' (Foto: MGM/The Kobal Collection e Divulgação)

 

Ficção: Baseado no livro do jornalista Bruce Cook, "Trumbo: Lista negra", dirigido por Jay Roach, conta a história de Dalton Trumbo (Bryan Cranston), um dos principais roteiristas de Hollywood, que foi preso nos anos 1950 por se negar a delatar seus amigos como comunistas.

O filme foca essa fase da vida de Trumbo, em que ele teve que adotar pseudônimos para continuar trabalhando em Hollywood. Seus roteiros de "A princesa e o plebeu" (1953) e "Arenas sangrentas" (1956), feitos na clandestinidade, venceram dois prêmios Oscar, que só lhe seriam entregues anos depois.

Realidade: Trumbo se aliou ao Partido Comunista dos EUA no fim dos anos 1930, quando ele começou a escrever roteiros para Hollywood. Em 1941, Trumbo acabou por delatar algumas pessoas ao FBI, algo que lhe assombraria quando ele mesmo foi delatado por colegas da indústria cinematográfica na comissão parlamentar de inquérito da Câmara dos Representantes dos EUA.

Trumbo sempre defendeu que aqueles que testemunharam sob pressão do Congresso e dos chefes de estúdios sobre a infiltração de comunistas em Hollywood eram igualmente vítimas da "caça às bruxas". Quando saiu da prisão, Trumbo não foi direto para sua casa encontrar seus filhos, como mostra no filme, mas foi morar no México. Lá, ele escreveu cerca de 30 roteiros sob pseudônimos para estúdios de cinema menores.

Trumbo foi casado com Cleo Fincher (Diane Lane) e teve três filhos: Nikola Trumbo, a mais velha, retratada no filme como uma ativista dos direitos civis, hoje tem 76 anos e é psicoterapeuta. Christopher Trumbo é diretor e roteirista de cinema, especializado na era da lista negra em Hollywood, e Melissa é fotógrafa.

À esquerda, Steve Jobs, fundador da Apple, e, à dir., Michael Fassbender em 'Steve Jobs' (Foto: Moshe Brakha/AP e Divulgação)

 

Ficção: Baseado no livro de Walter Isaacson, "Steve Jobs", dirigido por Danny Boyle, tem como foco três momentos cruciais na carreira de Jobs, que morreu em 2011: os lançamentos de um computador Macintosh (1984); outro da NeXT, então nova empresa de Jobs (1988); e a chegada do iMac G3 (1998).

A relação conturbada com a filha Lisa (que ele disse não ser pai, no começo) e a mãe da garota ganha bastante espaço, assim como o jeito rude com o qual o empresário trata seus colegas. Joanna Hoffman, diretora de marketing da Apple, é interpretada por Kate Winslet.

Realidade: A cena inicial em que o designer Andy Hertzfeld precisa fazer o Macintosh dizer "Olá", 40 minutos antes do aparelho ser lançado em um evento em 84, não aconteceu. A filha de Jobs, Lisa Brennan, também não fez um desenho no MacPaint antes do evento, levando Jobs a se emocionar e decidir dar dinheiro para a ex-mulher Chrisann.

Assim como não aconteceram as discussões de relacionamento com as mesmas seis pessoas nos três lançamentos de produtos. Essa foi apenas uma ferramenta usada pelo roteirista Aaron Sorkin para alinhavar a narrativa do filme.

Steve Wozniak, interpretado por Seth Rogen no filme, disse à "Bloomberg" que o filme não é exatamente um retrato dos acontecimentos reais. "Tudo no filme não aconteceu. Eu não falei com Steve Jobs nesses eventos". Laurene Powell Jobs, a viúva de Jobs, disse ao "Wall Street Journal" que tentou impedir que a Universal Pictures e a Sony Pictures realizassem o filme e que nunca gostou do livro de Walter Isaacson.

Fonte: G1