Por conta de uma decisão da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o Centro de Atenção Integral à Mulher (Caism), ligado a Unicamp, deixou de oferecer o tratamento com a vacina que evita abortos recorrentes em mulheres que têm dificuldade em engravidar. O hospital é o único no Brasil que oferecia a técnica pelo Sistema Único de Sáude (SUS).
Com a resolução da Anvisa, a vacina só pode ser utlizada para pesquisas. O tratamento é oferecido desde o início da década de 90, e a técnica tem com um dos seus primeiros adeptos no país o professor da Unicamp e médico ginecologista, Ricardo Barini.
Segundo Barini, o tratamento é utilizado em mulheres que têm abortos recorrentes. “Mulheres que têm aborto repetido podem ter como causa do abortamento uma rejeição aos tecidos fetais dentro do corpo dela. Tem exames que são feitos que identificam que a mulher está tendo uma adaptação para gravidez. Essa adaptação se manifesta pela presença de um anticorpo que ela produz durante a gravidez”, explica.
Vacina tem sangue do parceiro
Para impedir que haja rejeição, é utilizado o sangue do parceiro da mulher na vacina.
“Nós utilizamos os linfócitos do marido. Você colhe o sangue e separa os linfócitos que são utilizados para fazer a aplicação no corpo da mulher. Essa vacina estimula a mulher a desenvolver uma resposta que ela precisa ter durante a gravidez. Essa resposta ela devia desenvolver naturalmente”, diz.
Risco de contaminação
Em documento enviado ao G1, a Anvisa justifica a decisão dizendo que há riscos de contaminação.
“O uso dessas técnicas de imunização possui os mesmos riscos de qualquer outro tipo de transfusão, assim como a possibilidade de transmissão de vírus como a imunodeficiência humana (HIV), Epstein-Bar, hepatites e o citomegalivírus. Além disso, a técnica de manipulação do material, realizada em condições e ambientes inadequados, pode levar à contaminação microbiológica das amostras”, diz um trecho do documento.
Ainda de acordo com a Anvisa, a decisão se apoia em uma recomendação do Conselho Federal de Medicina (CFM).
“O posicionamento do CFM, por meio da sua Câmara Técnica de Ginecologia e Obstretrícia, considera que várias modalidades de tratamentos imunológicos ainda apresentam evidências insuficientes para comprovar descréscimo efetivo das perdas gestacionais recorrentes”, diz. A assesoria de imprensa do CFM confirma que o conselho emitiu uma nota técnica, por meio da sua Câmara Técnica de Ginecologia e Obstretricia, sobre o tema após uma consulta da agência federal. No entanto sua posição final sobre a vacinação ainda depende de análise pela plenária da instituição.
Eficácia comprovada
Para o professor Barini, o tratamento não traz riscos à gestante e tem sua eficácia comprovada por meio de estudos científicos no Brasil e no exterior.
“Eu tenho dois trabalhos científicos publicados que mostram que os resultados são excelentes. Um índice de 84 % de êxito. Também um jornal norte-americano publicou recentemente um artigo que dá respaldo à eficácia do tratamento. Houve uma série de desconfianças que o tratamento não era eficaz porque clínicas particulares usam esse tratamento de forma indiscriminada. Sendo assim, ficou frequente, se usar esse tratamento em pessoas que não necessitavam. Mas, não há risco e nem traz malefícios aos pacientes. É uma questão comercial".
Barini diz que profissionais do Caism pretendem tomar providências para que a decisão de restringir o uso da vacina seja revista.
“Nós temos o projeto de fazer uma nova pesquisa para provar a eficácia do método. Estamos apenas no aguardo da autroização do conselho de ética da universidade. Nosso objetivo é mostrar para o CFM que existem evidências de que o tratamento é eficaz", completa.
Fonte: G1